segunda-feira, 9 de setembro de 2019

FILME 02 - UM DIA MUITO ESPECIAL

MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA
FILME: Um dia muito especial (Ettore Scola, 1977)
DATA: 08/08/2019

No dia 08 de agosto, realizamos a segunda sessão do módulo SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA.
Iniciamos uma reflexão sobre o Fascismo e o Nazismo, suas características e o momento histórico em que surgiram. Para isso, selecionamos o belíssimo filme Um dia muito especial, do diretor italiano Ettore Scola, que traz no elenco Sophia Loren e Marcello Mastroianni.

Sinopse:

Em 1938, Hitler encontra-se com Mussolini em Roma. Enquanto isso, a amizade entre uma dona de casa infeliz e um jornalista homossexual desafia o cotidiano marcado pelas sombras do fascismo.


"Um Dia Muito Especial" é filme de esquerda cômico

TIAGO MATA MACHADO
da Folha de S.Paulo

Roma, 1938: Hitler é recebido por Mussolini para protagonizar mais um grandiloquente espetáculo fascista, uma monumental e triunfalista parada militar. A massa se veste de preto para cumprir, fascinada, a sua coreografia de morte no grande cerimonial. Esse é o pano de fundo de "Um Dia Muito Especial".

Como a lembrar que, no período, até mesmo os documentários eram usados como armas de propaganda, Ettore Scola, o autor do filme, usa as imagens de um cinejornal oficialesco para remontar àquele momento histórico.

Em sua contrapropaganda, Scola troca o grande teatro totalitarista pelo pequeno teatro da vida, lançando mão de uma estratégia um tanto brechtiana: conserva a "grande história" como fundo enquanto se detém, em primeiro plano, na "pequena história" do encontro entre uma dona de casa fascista, uma "mãe coragem" ainda sem consciência, e um radialista vizinho, perseguido por homossexualismo, duas vítimas do chauvinismo fascista.

O fundo, no caso, é apenas sonoro: um rádio, a principal arma de propaganda dos regimes fascistas, transmitindo ao vivo a parada militar e tomando, ditatorialmente, o ambiente do conjunto habitacional de classe média que serve de cenário ao filme. A transmissão interrompe a aula de rumba que o radialista, feliz por ter sido afastado dos próprios pensamentos pela inesperada visita, ensaiava dar à sua inadvertida vizinha.

A aula de rumba, assim como as demais e surpreendentes atitudes do radialista (Marcello Mastroianni), cumprem uma função bastante clara no esquema de Scola: são passos do processo de descondicionamento da dona de casa (Sophia Loren, sem maquiagem, para aparentar cansaço, mas mais bela e segura do que nunca) bitolada pelo modelo teatral-propagandístico fascista, fascinada pela gestualidade e estética (de guerra) próprias do regime.

Com um esquematismo que lhe é inabitual, Scola consegue, em "Um Dia Muito Especial" (1977), conciliar sem rusgas as suas filiações política e cinematográfica. Faz um "filme de conscientização", fiel à tradição do cinema de esquerda, sem abrir mão da comicidade, revelando, sobretudo, um grande senso de humor ao conceber, como clímax desse processo, uma cena de amor (e vingança) entre a humilhada dona de casa e o "subversivo" radialista gay, sob o som da ovação inebriada do público da parada fascista.

Um Dia Muito Especial
Una Giornata Particolare
Direção: Ettore Scola
Produção: Itália, 1977
Com: Sophia Loren, Marcello Mastroianni, John Vernon

Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/critica/ult569u816.shtml 

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