segunda-feira, 9 de setembro de 2019

DISCUSSÃO 04: UM DIÁLOGO ENTRE ADORNO E BERGMAN: O OVO DA SERPENTE E O TOTALITARISMO



Módulo: Sociedades totalitárias no cinema

Filme: O ovo da serpente (Ingmar Bergman, 1977)
Texto: O que significa elaborar o passado (Theodor Adorno, 1963) BAIXE O TEXTO AQUI




Nesta quinta, 12 de setembro, 17 h, discutiremos o filme O ovo da serpente, de Ingmar Bergman e o texto O que significa elaborar o passado, de Theodor Adorno.
O texto de Theodor Adorno, escrito em 1963, fala sobre a importância de não se esquecer os horrores do totalitarismo nazista. Para o crítico alemão, em momentos de graves crises econômicas e sociais, as pessoas podem ser novamente seduzidas pelos discursos autoritários que evocam a ordem e o nacionalismo.
Nesse sentido, o ensaio de Adorno, escrito alguns anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, traz importantes reflexões sobre o totalitarismo, dialogando com o filme O ovo da serpente, de Bergman.
Faremos a análise de alguns trechos do filme para aprofundar as observações teóricas.


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Theodor Adorno (1903-1969)


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:


1. No filme de Bergman, quais cenas ilustram o terror e o autoritarismo se espalhando pelo cotidiano berlinense, durante a República de Weimar? Quais recursos de filmagem são utilizados para ressaltar esse tema?
2. Por que Adorno afirma que os ideais nazistas continuavam vivos na Alemanha e na Europa, mesmo depois da derrota de Hitler na Segunda Guerra Mundial?
3. Segundo Adorno, por que a sociedade estaria perdendo sua capacidade de elaborar o passado, perdendo seu senso de historicidade?
4. Segundo Adorno, por que as pessoas têm dificuldades em aceitar a democracia na sociedade moderna?
5. De acordo com Adorno, qual a relação entre nacionalismo e totalitarismo?
Texto para download e leitura abaixo



MATERIAL COMPLEMENTAR
Para conhecer melhor o período histórico conhecido como República de Weimar (1919-1933), ao qual o filme de Ingmar Bergman remete, pode-se ler a obra abaixo:

A república de Weimar e a ascensão do Nazismo, de Angela Mendes de Almeida. 
DISPONÍVEL AQUI PARA DOWNLOAD

FILME 04: O OVO DA SERPENTE (INGMAR BERGMAN, 1977)

MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA
FILME: O ovo da serpente (Ingmar Bergman, 1977)
DATA: 05/09/2019

No dia 05/09, às 16:30, exibimos O ovo da serpente, um clássico de Ingmar Bergman.
Para continuar as discussões sobre sociedades totalitárias, iniciamos uma reflexão sobre o nazismo alemão.
O filme de Bergman é fundamental para compreender como todos os horrores do nazismo foram gestados uma década antes, nos anos 1920, durante a República de Weimar, quando a Alemanha vivia um período de grandes turbulências econômicas e políticas, em que o ódio e o absurdo começam a tomar conta da vida social.
Mais do que um filme sobre um período histórico da Alemanha, Bergman faz um retrato psicológico de uma sociedade caótica e dividida que pode servir de alerta para os tempos em que vivemos.

SINOPSE:
Berlim, novembro de 1923. Abel Rosenberg é um trapezista judeu desempregado que descobriu recentemente que seu irmão, Max, se suicidou. Logo ele encontra Manuela, sua cunhada. Juntos eles sobrevivem com dificuldade à violenta recessão econômica pela qual o país passa. Sem compreender as transformações políticas em andamento, eles aceitam trabalhar em uma clínica clandestina que realiza experiências em seres humanos.




CRÍTICA: O OVO DA SERPENTE

Luiz Santiago

[…] qualquer um que fizer o mínimo esforço poderá ver o que nos espera no futuro. É como um ovo de serpete. Através das membranas finas pode-se distinguir o réptil já perfeitamente formado.
Hans Vergerus
Produzido pelo badalado Dino De Larentiis (de Noites de CabíriaSerpico e Hannibal), com colaboração germano-americana, O Ovo da Serpente (1977), de Ingmar Bergman, é possivelmente a melhor reprodução cinematográfica sobre República de Weimar, considerando, além da recriação do período, as questões sociais, políticas, jurídicas, culturais, antropológicas e ideológicas; e do surgimento do nazismo na Alemanha, embora ainda valha a pena lembrar que Rainer Werner Fassbinder igualmente nos legou uma gloriosa contribuição sobre o tema, em sua série para a TV, Berlin Alexanderplatz (1980), onde percorre o período com profundidade amarga através de suas personagens não menos atormentadas que o mundo onde viviam.
Bergman escreveu o roteiro sob meticulosa pesquisa histórica e nele retratou com muita fidelidade os primeiros passos de uma sociedade que, já dividida em organização física e teórica, desembocaria nas mãos do nacional-socialismo a partir de 1933. Façamos, antes, uma breve passagem pelos eventos que construíram esse tempo histórico.
Com a queda da monarquia na Alemanha após a 1ª Guerra Mundial, a cidade de Weimar (onde morreu Goethe) foi escolhida como sede do novo governo, uma República liberal que precisava guiar o país destruído pela guerra para um tempo de reconstrução que parecia não ter nenhuma possibilidade de aparecer em curto ou médio prazo. Os primeiros anos da República de Weimar são de profunda crise interna, da qual destacamos alguns eventos:
  1. Fracasso industrial e monumental inflação;
  2. Impunidade dos assassinos políticos, que agiam em larga escala – segundo o historiador alemão Peter Gay, em seu livro A Cultura de Weimar, o fato de o novo governo não empreender uma reforma judiciária foi um dos seus grandes erros;
  3. Diversas tentativas de derrubar o governo;
  4. A “crise moral” causada pela assinatura do Tratado de Versalhes;
  5. A ocupação de Ruhr pela França;
  6. O crescimento desenfreado do fanatismo político, do anti-semitismo e da xenofobia.
Nesse caos social, a moderna centelha cultural condenada pela monarquia ganhou espaço livre para manifestar-se, e é então que temos a Bauhaus, A Ópera dos Três VinténsA Montanha MágicaO Gabinete do Dr. CaligariDr. MabuseNosferatuMetropolisO Anjo Azul, etc. O expressionismo nas artes deste período representava artisticamente a insegurança e as diversas crises do país, sendo o medo o principal fantasma, alimentado diariamente por propaganda xenofóbica/racista, inicialmente ilegal (mas a crise jurídica parecia dar um aval mudo a ela, pois não haviam reais punições); palavras de ordem por um militarismo salvador, como “único caminho” de redimir os “elos desregrados” do governo e da população; e forte sentimento de culpabilidade dos males do país a poucos ou um único grupo de pessoas.
Bergman constrói com impecável riqueza de detalhes o mundo sangrento, paranoico e instável que era a Alemanha de 1923, ano em que se passa o seu filme, no período entre 3 e 11 de Novembro, semana do Putsch de Munique. O Ovo da Serpente é a história de Abel Rosenberg (David Carradine, em atuação magnífica), um trapezista judeu que vê o seu mundo desmoronar a partir do suicídio de seu irmão. Sua vida então se resume a lutar pela sobrevivência ao lado da cunhada Manuella (Liv Ullman, como sempre, fenomenal), uma cantora de cabaré. Bergman insere em suas características autorais o mundo que se dispõe representar e com a inigualável fotografia de Sven Nykvist, percorre becos e casas com a aura do recrudescimento, captada junto a tipos sociais muito representativos. Um desses mundos é o do espetáculo, e assistimos às apresentações do cabaré (com Liv Ullman cantando em alemão) em de um bar-jazz em Berlim, com músicos alemães fazendo blackface.
O anti-semitismo é visto desde a segunda cena do filme, quando o delegado de polícia pergunta a Abel se ele é judeu e, mais adiante, o prende como suspeito de uma série de “assassinatos brutais e misteriosos”. Em outra cena, um grupo de jovens alemães obrigam dois judeus a lavarem uma calçada com escovas, atitude ignorada pelo policial que passa e vê a cena, mas não intervém. Bergman mostra com muita crueza como essas ideias de ódio e tratamento vil a um grupo de pessoas se espalhou pela cidade, assim como o discurso de justificativa para esse ódio tão grande quanto o destinado aos “bolchevistas”. Através dos jornais e das batidas policiais em “estabelecimentos judeus” (o caso do cabaré onde Manuella trabalha é um exemplo), é possível identificar como o discurso anti-semita tinha força e, já nos anos 1920, causava destruição, mesmo em uma Alemanha cuja forma de governo era a República.
O desemprego e a fome estão em toda parte na Berlim desses “loucos anos”. A cidade parece uma carcaça por dentro, encoberta pela arquitetura. Em uma cena chocante, vemos pessoas cortarem a carne de um cavalo morto para alimentar-se. Também acompanhamos a constante desvalorização do marco, até o ponto em que o valor impresso da moeda não importava mais e as vendas eram feitas pelo peso que se tinha em dinheiro. A luta pela sobrevivência é a ordem a ser cumprida e o medo acompanha as ações vacilantes dessa sociedade que se decompõe. A libido se ajusta à histeria e ao desalento.
O ponto-chave e revelador da obra é quando a história das experiências com seres humanos é esclarecida, em uma das mais supremas cenas do cinema, onde a maestria do corte, do enquadramento e da direção podem ser vistas em grande estilo. Entre pequenos curtas-metragens feitos durante as “observações”, os closes descritivos em um silencioso David Carradine falam mais do que páginas e páginas de roteiro. O profético discurso final do cientista dá conta do caminho perigoso pelo qual seguia a Alemanha, e ressalta a “passividade” do povo judeu que seguia como ovelhas para o matadouro (polêmica também trabalhada por Hannah Arendt no futuro).
O desfecho do filme é a triste revelação de um indivíduo “contaminado” pela virulenta metrópole, que tem a oportunidade de sair daquele espaço mas não consegue, e se perde entre pedestres e ruas molhadas pela constante chuva… para nunca mais ser visto. O realismo com que Bergman nos apresenta a Berlim de 1923 é espantoso. Os figurinos de Charlotte Fleming também merecem destaque, pela adequação dramática e imagética perfeitas. Em O Ovo da Serpente, Bergman realiza uma obra dotada de forte senso crítico-social e de uma exposição memorável da História. Com a profunda força da imagem, o diretor consegue mostrar uma sociedade que vivia sob o medo e ainda denuncia os motivos pelos quais o futuro tenebroso falaria por si. Até mesmo a posição de alemães antinazistas é abordada, e a descrença em Hitler, por ocasião do Putsch de Munique, é verbalizada em cena simbólica.
O Ovo da Serpente é um grande exercício cinematográfico, com atuações irreparáveis – inclusive do elenco de apoio – e com a louvável direção de Bergman, que usou de anos de experiências anteriores, em roteiros que investigavam a alma, humana para transformar em celuloide o sentimento de uma época, fazendo-o de forma única e, por incrível que pareça, ainda presente em sociedades contemporâneas, em diversos estágios de desenvolvimento. Um filme analítico que nos mostra que não se mata uma ideia, inclusive aquelas encubadas por uma sociedade polarizada, marcada pelo medo e acreditando que tudo o que lhe torna problemática tem raiz naquele que é diferente e na liberdade individual alheia, cabendo à salvadora mão forte do Exército, do Ditador, do Grande Político Centralizador, do Culto ao Líder, o poder de segregar, proibir ou matar os “desregrados” para, então, segundo esses indivíduos, salvarem o país. Um eterno e infame ovo da serpente.

O Ovo da Serpente (Das Schlangenei) –  EUA/Alemanha Ocidental, 1977
Direção:
 Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman
Elenco:Liv Ullmann, David Carradine, Gert Fröbe, Heinz Bennent, Toni Berger, Christian Berkel, Edith Heerdegen, Kai Fischer, Paula Braend, Paul Bürks, Gaby Dohm, Emil Feist, Georg Hartmann, Edith Heerdegen, Günter Meisner, Glynn Turman, James Whitmore
Duração: 120min.
Disponível em:https://www.planocritico.com/critica-o-ovo-da-serpente/ 

DISCUSSÃO 03: O fascismo italiano em questão (parte 2)

MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA

FILME: Vincere (Marco Bellocchio, 2009)
TEXTO: Fascismo e ditadura (Nicos Poulantzas) (Baixar texto aqui)
No dia 29 de agosto, 17 h, fizemos a segunda parte da discussão sobre o Fascismo Italiano, a partir da leitura do texto “Fascismo e classe operária”, de Nicos Poulantzas.
Tomando por base o filme Vincere (Marco Bellochio, 2010), produzimos uma reflexão sobre como o fascismo, sob a tutela de Benito Mussolini, conseguiu se tornar um fenômeno de massas, tendo adesão inclusive da classe trabalhadora.

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 (Mussolini, em discurso aos trabalhadores italianos)





FILME 03: VINCERE

MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA

FILME: Vincere (Marco Bellocchio, 2009)
DATA: 22/08/2019

Nesta quinta, dia 22, às 16:30, exibimos o filme Vincere (2009), a fim de continuar discutindo os aspectos históricos do fascismo italiano e sua forma de representação pelo cinema.
O drama narra os acontecimentos de um capítulo ignorado na biografia oficial do líder italiano, Benito Mussolini: sua primeira esposa Ida Dalser e o filho que teve com ela, Benito Albino. Misturando imagens documentais da ascensão de Mussolini e do fascismo, o filme faz uma bela junção entre argumento histórico e drama passional.

Crítica: Vincere


Marco Bellocchio volta a um evento histórico da Itália para falar do discurso político de modo geral

Marcelo Hessel


Assim como em Bom Dia, Noite, o filme anterior do cineasta Marco Bellocchio a estrear em circuito comercial no Brasil, Vincere ("vencer" em italiano) aborda a relação frenquentemente conflituosa que Igreja e Estado mantêm na Itália. Desta vez, voltamos à primeira metade do século 20 para acompanhar a história real de Ida Dalser, que morreu sozinha tentando convencer a todos que era esposa de Benito Mussolini.
O filme começa com o futuro líder fascista (vivido por Filippo Timi) falando para um grupo de católicos de Trento, em nome do grupo socialista do qual rapidamente se tornaria porta-voz, que Deus não existe. A ousadia de Mussolini encanta Ida (Giovanna Mezzogiorno), e os dois logo se tornam amantes às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Diz a história oficial que o primeiro e único filho do casal, Benito Albino Mussolini, nasceu em 1915 - e o pai o reconheceu legalmente, ainda que naquele mesmo ano tenho se casado com outra mulher, Rachele (Michela Cescon).
Sem saber de Rachele, Ida já havia vendido suas posses para bancar o panfleto do então jornalista militante - e no momento em que chega ao poder, nos anos 20, já autoproclamado Il Duce (O Líder), Mussolini deixa Ida. A briga dela por ser reconhecida a primeira esposa do ditador acaba dentro de um hospício. Por anos Ida viveu enclausurada como uma doente mental em instituições administradas, ironicamente, pela Igreja.
A crítica de Bellocchio à promiscuidade entre os católicos e os políticos - uma relação antes de mais nada geográfica, uma vez que o Vaticano fica no coração da capital política da Itália - toma toda a segunda metade do filme e alcança seu ápice, justamente, quando o Duce faz as pazes com a Igreja em público e no papel. Mas não é isso que faz de Vincere uma obra-prima, e sim a análise de como se constrói uma imagem política e como o discurso de Mussolini se opõe à palavra de Ida Dalser.
Sedução do poder, ímpeto para a guerra e outras virilidades à parte (é ótima a cena em que Mussolini busca a sacada do apartamento depois de transar com Ida, como se quisesse contar a todos a sua performance), Bellocchio coloca Benito e Ida num mesmo degrau - a palavra dos dois tem o mesmo valor. Dá pra enxergar Vincere como um longa dividido em dois, primeiro o teste da honra de Mussolini e depois, na segunda metade, o teste da honra de Ida.
Como sabemos que o ditador renega o que havia dito na primeira cena do filme (que Deus não existe, na opinião dele), então a palavra de Mussolini não vale nada. Não por acaso, Bellocchio substitui a figura do ator Filippo Timi pela do Duce real na segunda metade - afinal, a persona tomou o lugar do homem. E Ida? Ela só precisava mentir para se ver livre do martírio no sanatório, mas não abre mão da sua palavra, não dissimula. Não cria uma persona, enfim.
É uma aula de como substitui-se, para fins programáticos, a imagem do homem pela do timoneiro da nação - o que implica até comparar Mussolini a Jesus Cristo em certa passagem. O filme de Bellocchio tem toda uma sofisticada discussão sobre o que é ser político e sobre a construção de uma imagem política (mesmo via cinema, via metalinguagem, como acompanhamos em diversos momentos na primeira metade), mas também é bastante acessível a todos os tipos de público. Sua força aberta a todo espectador, visualmente, está na mimetização do panfleto de guerra. O título do filme é só uma das muitas palavras-de-ordem que saltam a tela, montadas com fusão às imagens encenadas e a outras imagens de arquivo, e dão ao filme uma cara de vídeo de marcha popular. É um recurso que pode parecer datado, mas tem efeito potente.
Por fim, qualquer semelhança com regentes correntes da Itália, chegados a histrionices e a contar vantagens na cama, não é só coincidência. Vincere fala sobre Mussolini, fala sobre Berlusconi, e serve para a política de modo geral.


DISCUSSÃO 02: O fascismo italiano em questão (parte 1)




MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA

Discussão 02: O fascismo italiano em questão (parte 1)
Filme: Um dia muito especial (Ettore Scola, 1977)
Texto: Fascismo e ditadura (p 7 - 35) (clique aqui para baixar)


DATA: 15/08/2019

No dia 15/08, às 17 h, realizamos o quarto encontro do módulo “Sociedades totalitárias no cinema”.
Discutimos o filme Um dia muito especial (1977) e um capítulo do livro Fascismo e ditadura (LER P. 5-35), de Nicos Poulantzas. 
Imagem relacionada
Nicos Poulantzas (1936-1979)



No texto, o autor busca definir o conceito de “Fascismo” a partir do contexto econômico, social e político da Itália e da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Para o autor, o fascismo precisa ser compreendido em sua íntima relação com o capitalismo financeiro e com o imperialismo, estabelecidos em fins do século XIX e início do XX.
Fizemos uma importante e aprofundada discussão sobre o conceito de “fascismo”, pois em nosso momento histórico o conceito tem sido muito deturpado e mal compreendido.
 





FILME 02 - UM DIA MUITO ESPECIAL

MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA
FILME: Um dia muito especial (Ettore Scola, 1977)
DATA: 08/08/2019

No dia 08 de agosto, realizamos a segunda sessão do módulo SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA.
Iniciamos uma reflexão sobre o Fascismo e o Nazismo, suas características e o momento histórico em que surgiram. Para isso, selecionamos o belíssimo filme Um dia muito especial, do diretor italiano Ettore Scola, que traz no elenco Sophia Loren e Marcello Mastroianni.

Sinopse:

Em 1938, Hitler encontra-se com Mussolini em Roma. Enquanto isso, a amizade entre uma dona de casa infeliz e um jornalista homossexual desafia o cotidiano marcado pelas sombras do fascismo.


"Um Dia Muito Especial" é filme de esquerda cômico

TIAGO MATA MACHADO
da Folha de S.Paulo

Roma, 1938: Hitler é recebido por Mussolini para protagonizar mais um grandiloquente espetáculo fascista, uma monumental e triunfalista parada militar. A massa se veste de preto para cumprir, fascinada, a sua coreografia de morte no grande cerimonial. Esse é o pano de fundo de "Um Dia Muito Especial".

Como a lembrar que, no período, até mesmo os documentários eram usados como armas de propaganda, Ettore Scola, o autor do filme, usa as imagens de um cinejornal oficialesco para remontar àquele momento histórico.

Em sua contrapropaganda, Scola troca o grande teatro totalitarista pelo pequeno teatro da vida, lançando mão de uma estratégia um tanto brechtiana: conserva a "grande história" como fundo enquanto se detém, em primeiro plano, na "pequena história" do encontro entre uma dona de casa fascista, uma "mãe coragem" ainda sem consciência, e um radialista vizinho, perseguido por homossexualismo, duas vítimas do chauvinismo fascista.

O fundo, no caso, é apenas sonoro: um rádio, a principal arma de propaganda dos regimes fascistas, transmitindo ao vivo a parada militar e tomando, ditatorialmente, o ambiente do conjunto habitacional de classe média que serve de cenário ao filme. A transmissão interrompe a aula de rumba que o radialista, feliz por ter sido afastado dos próprios pensamentos pela inesperada visita, ensaiava dar à sua inadvertida vizinha.

A aula de rumba, assim como as demais e surpreendentes atitudes do radialista (Marcello Mastroianni), cumprem uma função bastante clara no esquema de Scola: são passos do processo de descondicionamento da dona de casa (Sophia Loren, sem maquiagem, para aparentar cansaço, mas mais bela e segura do que nunca) bitolada pelo modelo teatral-propagandístico fascista, fascinada pela gestualidade e estética (de guerra) próprias do regime.

Com um esquematismo que lhe é inabitual, Scola consegue, em "Um Dia Muito Especial" (1977), conciliar sem rusgas as suas filiações política e cinematográfica. Faz um "filme de conscientização", fiel à tradição do cinema de esquerda, sem abrir mão da comicidade, revelando, sobretudo, um grande senso de humor ao conceber, como clímax desse processo, uma cena de amor (e vingança) entre a humilhada dona de casa e o "subversivo" radialista gay, sob o som da ovação inebriada do público da parada fascista.

Um Dia Muito Especial
Una Giornata Particolare
Direção: Ettore Scola
Produção: Itália, 1977
Com: Sophia Loren, Marcello Mastroianni, John Vernon

Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/critica/ult569u816.shtml