quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Filme 06: Sensorialidade, fragmentação e arte em A grande beleza

FFILME 06: A Grande Beleza (Paolo Sorrentino, 2013, 2h 52m)
MÓDULO: O contemporâneo em questão
DATA DA EXIBIÇÃO: 10/08/2018
HORÁRIO: 15:30 h
SALA: Laboratório Multimídia (Bloco F - UEMS - UUCG)

Em busca de sentidos na produção artística contemporânea: fragmentos sobre o saber sensível no filme A Grande Beleza

Keyla Andrea Santiago e Thaís Lobosque Aquino






É sempre assim que termina, com a morte,

no entanto antes houve a vida,

escondida embaixo do blá, blá, blá.

É tudo sedimentado por baixo das câmeras

e do barulho: o silêncio e o sentimento, a emoção

e o medo. Os frágeis e inconstantes vislumbres de beleza...

                                                         Jep Gambardella


O estouro de um canhão ovacionado por um grupo de pessoas já no início da narrativa fílmica e a morte súbita de um turista que tenta captar nas lentes de sua câmera um pedaço que ainda pode haver restado da grandiosa Roma pré-anunciam o caos de uma cidade em plena decadência, que gera a nostalgia de uma beleza há muito escondida em seus monumentos, na música vocal e nas fontes um dia limpas. Mostra a crueza das relações humanas, ali desnudas de seus truques cotidianos, em um espetáculo que não cansa de estrear seus miseráveis dias em festas regadas a entorpecentes, entretenimento frívolo, uma busca incessante por algo que se perdeu: a grande beleza.

Consciente dessa perda está a personagem principal da trama, Jep Gambardella, um misto de tédio, tristeza, nostalgia, que assiste à ilusão de vida em que ele e seus amigos estão mergulhados, mas ainda busca uma réstia de luz em um país assombrado, oscilando entre o desejo de desaparecer e o de encontrar respostas nas obras de arte que outrora eram sagradas, verdadeiras relíquias. Hoje se mostram ao alcance de todos, escancaradas, e como disse Céline, na citação que abre o filme, qualquer um pode fazer o mesmo, empreender a viagem da ilusão e da imaginação, é só fechar os olhos. Será mesmo assim?

O sentido das produções artísticas contemporâneas é uma questão que se lança à discussão em A Grande Beleza ao longo de seu desenvolvimento, filme do diretor Paolo Sorrentino, e tem forte apelo em algumas cenas específicas. A arte hoje se coloca para artistas e seus apreciadores como uma viagem imaginária ao fim da noite de Céline, uma viagem que vai da vida à morte e é necessário levar às ultimas consequências um carpe diem inesgotável de sensações absolutamente epidérmicas e rasas.

A película gera indagações sobre a qualidade e sentido da arte produzida nos dias atuais, elas não se curvam à valorização de obras de arte do passado, tampouco à música que nega a possibilidade de relação entre prática humana e uso de aparatos tecnológicos.

Os tempos contemporâneos de crise nos impelem a entender que a arte não pode fingir estar à parte, e num pedestal lançar suas luzes ao lamaçal trevoso. Não se trata de sacralizar as obras diante da existência cruel do mundo, pois em sua essência está a negatividade fundante, o germe que permite a elas trafegar no desencantamento, fazendo parte dele, enquanto o criticam. Essa tensão é o que se perde na performance efêmera que polariza o efeito expressivo do ato-obra e ignora o princípio da construção, ou a sua utopia. A dialética oscilante entre os dois princípios, o da construção e da mimese (expressivo) não pode suportar o exagero do ato que se transforma em caricatura da expressão ou a negligência para com o trabalho, com a técnica, com o investimento na forma final.

Muitas cenas evocam essa discussão.  O questionamento sobre o sentido da arte na contemporaneidade, em suas manifestações sonoras e visuais, as atravessa. A preocupação da modificação material deslocada para o corpo explorado, que lamuria, o corpo que sofre a violação, o perigo da morte ou do ferimento, parecem querer renovar a proposta de entretenimento, entrelaçando-o com algo que carrega a aparência de arte opulenta, porém vazia e superficial. É a queda vertiginosa em um abismo que não parece oferecer redenção, embora aparentemente essa redenção esteja de pronto dada pelas performances das próprias obras. Estamos falando de outro tipo de entretenimento? Um entretenimento mais sofisticado que por vezes se faz confundir com arte de qualidade?

A aposta do filme baseada na elaboração de uma crítica ácida encontra seu ponto de inflexão posterior no que seria sua proposta diante da decadência mostrada de diferentes maneiras, a esperança de um saber sensível em cuja essência busca-se a discussão do humano. A grande beleza estaria na feiura da arte sensível, sem a afetação do espetáculo, feita de fragilidades e passível de questionamento, constituída de um saber que transpira investimento, estudo, labuta, erros, mas que transforma perguntas em sentidos, busca incessantemente por respostas, pela tentativa sem trégua, sem necessidade do escândalo, e muitas fezes feita de silêncios e medos.

(trechos do ensaio Em busca de sentidos na produção artística contemporânea: fragmentos sobre o saber sensível no filme A Grande Beleza)
 

Filme 05: Música, melodrama e as contradições espirituais do pós-moderno em Alabama Monroe

FILME 05: Alabama Monroe (Felix Van Groeningen, 2012, 1h 52m)

MÓDULO: O contemporâneo em questão

DATA DA EXIBIÇÃO: 25/07/2018

HORÁRIO: 16:30 h
SALA: Laboratório Multimídia (Bloco F - UEMS - UUCG)

(Texto a escrever)
Para ler algumas críticas sobre o filme, leiam:

 Alabama Monroe (Plano Crítico)


Alabama Monroe seduz com sexo, tristeza e ótima música



Filme 04: Big Jato: o cinema ácido de Cláudio Assis encontra o humor e melhora

FILME 04: Big Jato (Cláudio Assis, 2016)

MÓDULO: O contemporâneo em questão

DATA DA EXIBIÇÃO: 17/06/2018

HORÁRIO: 16:30 h
SALA: Laboratório Multimídia (Bloco F - UEMS - UUCG)

Big Jato: o cinema ácido de Cláudio Assis encontra o humor e melhora
(Texto a escrever)
Leiam os textos:


Big Jato – força estranha leva Cláudio Assis a filmar 

Mais ponderado, Cláudio Assis faz de Big Jato seu melhor filme