FILME 05: ALEMANHA ANO ZERO (ROBERTO ROSSELINI, 1948)
MÓDULO: SOCIEDADES
TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA
FILME: O ovo da
serpente (Ingmar Bergman, 1977)
DATA: 26/09/2019
O Cineclube Uems exibiu o filme Alemanha, Ano Zero, de 1948, um clássico do diretor italiano Roberto Rossellini.
Dentro do módulo “Sociedades totalitárias no cinema”, seguimos discutindo o tema do nazismo e o modo como podemos compreendê-lo por meio da linguagem cinematográfica, neste caso, a partir do neorrealismo italiano.
Dentro do módulo “Sociedades totalitárias no cinema”, seguimos discutindo o tema do nazismo e o modo como podemos compreendê-lo por meio da linguagem cinematográfica, neste caso, a partir do neorrealismo italiano.
SINOPSE:
O filme segue Edmund, um rapaz que vive na cidade de Berlim, destruída pela Segunda Guerra Mundial. Para ajudar a sua família, Edmund tem que pensar em várias formas de arranjar comida e sobreviver. Um dia, encontra um antigo professor e Edmund espera que ele o ajude de alguma forma. Porém, não é isso que acontece.
Crítica: ALEMANHA ANO ZERO
Por Roberto Honorato
Chegando ao fim da Trilogia da Guerra de Roberto Rossellini, temos Alemanha, Ano Zero.
Ainda que os longas anteriores estejam interessados em representar o
cotidiano do cidadão encarando as repercussões da guerra, aqui temos
pela primeira vez um protagonista na figura de Edmund, um garoto de doze
anos vivendo em uma Berlim pós-guerra, que faz de tudo para conseguir
trazer alguma comida no fim do dia para sua família. Enquanto o garoto
se arrisca nos destroços da cidade, assistimos o drama de sua e de
outras famílias sobrevivendo em um apartamento bombardeado, com o
racionamento de energia e as constantes batidas militares.
Assim como em Roma, Cidade Aberta,
há uma atmosfera deprimente ao mostrar a realidade destas pessoas, aqui
por conta do que já se perdeu. Rossellini apresenta planos abertos de
ambientes corrompidos pela guerra, e mesmo que possamos ver um pouco da
beleza do passado, ela está rodeada por toda a ruína, dificultando a
motivação do povo em seguir em frente. A maioria das crianças consegue
ignorar o arredor, mas Edmund passa uma boa parte do filme caminhando
por horas, de cabeça baixa, tentando vender objetos caros em troca de
uma lata de carne enlatada. Em certo ponto, o garoto tenta vender um
vinil com a gravação de um áudio de Hitler, uma missão perigosa mas
necessária.
Personagens intrigantes como o ex-professor de Edmund, interpretado por Erich Gühne, ou Karl-Heinz, o jovem de princípios duvidosos feito por Franz-Otto Krüger,
são surpreendentes e mantém uma dinâmica que faz deste filme uma
experiência mais completa, mostrando pontos de vista que fortalecem a
narrativa. Mas é por conta da perspectiva de Edmund, muito bem
representado pelo ator-mirim Edmund Meschke, que a obra atinge outro nível. Assim como o personagem de Jean-Pierre Léaud, em Os Incompreendidos,
recebe admiração do público, considero Meschke tão bom quanto, talvez
mais envolvente por conta de sua expressão forte e marcada em contraste
com um olhar vazio assustador, essencial para traduzir o peso que o
garoto carrega assumindo responsabilidades e enfrentando um enorme
dilema moral tão cedo na vida.
Por ser o
filme de menor duração da trilogia, é difícil falar dele sem entregar
muita informação, mas mesmo sendo lançado há algumas décadas, é uma obra
que vale a pena ser assistida sem conhecimento prévio de alguns pontos
da trama, não só por conta de possível reviravoltas, mas pelo
desenvolvimento lento e a execução mais sólida, se formos nos basear em
uma estrutura básica e comparar com o longa anterior de Rossellini, Paisà. E
por falar nele, podemos ver uma direção com um orçamento um pouco
maior, tendo algumas tomadas aéreas e mais filmagens em cenário, não
dependendo apenas das gravações exteriores – ainda que elas sejam
impactantes.
Alemanha, Ano Zero
é um desfecho apropriado para a série do diretor, terminando em uma
nota mais trágica e pessimista, que comprova como Rossellini não deixou
de lado sua proposta em manter o realismo e continuar tocando na ferida
enquanto ainda está fresca.
Alemanha, Ano Zero (Germania Anno Zero) — Itália, 1948
Direção: Roberto Rossellini
Roteiro: Roberto Rossellini, Carlo Lizzani (diálogos), Max Kolpé (diálogos), Sergio Amidei (versão italiana), Basilio Franchina (ideia original, não creditado)
Elenco: Edmund Meschke, Erich Gühne, Franz-Otto Krüger, Ingetraud Hinze, Ernst Pittschau
Duração: 78 min.
Direção: Roberto Rossellini
Roteiro: Roberto Rossellini, Carlo Lizzani (diálogos), Max Kolpé (diálogos), Sergio Amidei (versão italiana), Basilio Franchina (ideia original, não creditado)
Elenco: Edmund Meschke, Erich Gühne, Franz-Otto Krüger, Ingetraud Hinze, Ernst Pittschau
Duração: 78 min.
Texto originalmente publicado em https://www.planocritico.com/critica-alemanha-ano-zero/ .
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