MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO
E DISTOPIA
FILME: FAHRENHEIT 451 (François Truffaut, 1966)
TEXTO: "IDEOLOGIA E TERROR: UMA NOVA FORMA DE
GOVERNO" (Hanna Arendt, 1955) (clique aqui para baixar)
DATA: 04/07/2019
TEXTO DE APRESENTAÇÃO:
A SOCIEDADE TOTALITÁRIA EM FAHRENHEIT 451
O filme distópico de François Truffaut, baseado no
romance homônimo do escritor Ray Bradbury (1953), apresenta uma sociedade
totalitária, na qual todos os cidadãos estão sob controle total do governo,
sendo levados a um comportamento abúlico e padronizado, sempre vigiados pelos
aparelhos de Estado. Assim, os indivíduos são anestesiados pelo espetáculo
televisivo e pelo consumo de drogas e futilidades, cada vez mais insulados na
própria individualidade, perdendo os laços sociais e os afetos familiares.
Neste mundo em que o social se deteriora, a memória coletiva se perde, a
própria consciência do sujeito se reifica e tudo aquilo que possa estimular os
indivíduos a produzirem questões complexas sobre si e sobre a vida que levam,
necessita ser extirpado.
Nesse sentido, os livros se apresentam como objetos
perigosos, portadores da memória coletiva, da experiência e da história humana
que obviamente poderiam ser prejudiciais ao discurso do governo totalitário, às
supostas finalidades de bem-estar social por ele enunciadas. Assim, os
bombeiros, que antigamente apagavam incêndios, passam a ser agora os agentes do
Estado que têm a incumbência de queimar livros, de perseguir os que desejam
lê-los à revelia. Nesta sociedade sem escrita, surge o sujeito desmemoriado, na
medida em que as práticas tradicionais de transmissão cultural pela oralidade
são agora também solapadas pela comunicação midiática. Sem experiência a
comunicar, as pessoas não contam mais histórias umas para as outras, tendo
somente as narrativas estandardizadas da televisão por referência subjetiva. No
fim, o sujeito desmemoriado se desdobra em sujeito amedrontado, incapaz de
afrontar o controle ideológico do governo, incapaz de reconhecer contradições, exercendo
ele próprio o controle e vigilância que o governo totalitário difunde.
Sendo uma distopia, essa narrativa sobre uma
sociedade futurista totalitária, no contexto posterior à Segunda Guerra
Mundial, pode ser compreendida tanto como uma crítica mais ampla ao legado
nefasto dos governos totalitários que produziram a guerra e o extermínio de
grandes populações (Nazismo e Stalinismo), mas também ao potencial totalitário
das novas formas de controle social a partir dos meios de comunicação de massa,
sobretudo a televisão, massificada nos anos 1950 nos EUA. Assim, Fahrenheit 451
continua a ser atual, na medida em que os riscos do totalitarismo que
objetivamente tomaram forma no século XX, continuam a nos assombrar, apesar da
crença de que vivemos em uma sociedade da livre informação e de que seríamos
mais emancipados que as gerações anteriores.
(Prof. Dr. Volmir Cardoso Pereira)
TEXTO PARA DISCUSSÃO:
Para nossa discussão, tomaremos por base o texto
“Ideologia e terror: uma nova forma de governo”, da filósofa Hannah Arendt.
Trata-se do último capítulo do livro As origens do totalitarismo, publicado em
1951. Ao analisar o nazismo e o stalinismo, no contexto do final da Segunda
Guerra Mundial, Arendt fez notáveis observações sobre as características do
Estado totalitário, mostrando que o totalitarismo pode assumir formas
ideológicas diversificadas, mas que sua perversão resulta de elementos próprios
do desenvolvimento da Modernidade, sobretudo a crença utilitarista em fins que
justificam os meios.
Baixe aqui:
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:
- O que é uma “sociedade totalitária”?
- Segundo Hannah Arendt, quais fatores são
responsáveis por gerar uma sociedade totalitária?
- Segundo Hannah Arendt, como funciona o terror
totalitário?
- Como se dá a relação entre indivíduo e sociedade
no filme?
- Quais elementos do conteúdo narrativo expressam a
existência de uma sociedade totalitária?
- Quais recursos formais o diretor utiliza para
problematizar a harmonia artificial gerada pelo governo totalitário?
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