sábado, 29 de junho de 2019

DISCUSSÃO 01: A SOCIEDADE TOTALITÁRIA EM FAHRENHEIT 451


MÓDULO: SOCIEDADES TOTALITÁRIAS NO CINEMA: REALISMO E DISTOPIA

FILME: FAHRENHEIT 451 (François Truffaut, 1966)

TEXTO: "IDEOLOGIA E TERROR: UMA NOVA FORMA DE GOVERNO" (Hanna Arendt, 1955) (clique aqui para baixar)

DATA: 04/07/2019




TEXTO DE APRESENTAÇÃO:


A SOCIEDADE TOTALITÁRIA EM FAHRENHEIT 451

O filme distópico de François Truffaut, baseado no romance homônimo do escritor Ray Bradbury (1953), apresenta uma sociedade totalitária, na qual todos os cidadãos estão sob controle total do governo, sendo levados a um comportamento abúlico e padronizado, sempre vigiados pelos aparelhos de Estado. Assim, os indivíduos são anestesiados pelo espetáculo televisivo e pelo consumo de drogas e futilidades, cada vez mais insulados na própria individualidade, perdendo os laços sociais e os afetos familiares. Neste mundo em que o social se deteriora, a memória coletiva se perde, a própria consciência do sujeito se reifica e tudo aquilo que possa estimular os indivíduos a produzirem questões complexas sobre si e sobre a vida que levam, necessita ser extirpado.

Nesse sentido, os livros se apresentam como objetos perigosos, portadores da memória coletiva, da experiência e da história humana que obviamente poderiam ser prejudiciais ao discurso do governo totalitário, às supostas finalidades de bem-estar social por ele enunciadas. Assim, os bombeiros, que antigamente apagavam incêndios, passam a ser agora os agentes do Estado que têm a incumbência de queimar livros, de perseguir os que desejam lê-los à revelia. Nesta sociedade sem escrita, surge o sujeito desmemoriado, na medida em que as práticas tradicionais de transmissão cultural pela oralidade são agora também solapadas pela comunicação midiática. Sem experiência a comunicar, as pessoas não contam mais histórias umas para as outras, tendo somente as narrativas estandardizadas da televisão por referência subjetiva. No fim, o sujeito desmemoriado se desdobra em sujeito amedrontado, incapaz de afrontar o controle ideológico do governo, incapaz de reconhecer contradições, exercendo ele próprio o controle e vigilância que o governo totalitário difunde.

Sendo uma distopia, essa narrativa sobre uma sociedade futurista totalitária, no contexto posterior à Segunda Guerra Mundial, pode ser compreendida tanto como uma crítica mais ampla ao legado nefasto dos governos totalitários que produziram a guerra e o extermínio de grandes populações (Nazismo e Stalinismo), mas também ao potencial totalitário das novas formas de controle social a partir dos meios de comunicação de massa, sobretudo a televisão, massificada nos anos 1950 nos EUA. Assim, Fahrenheit 451 continua a ser atual, na medida em que os riscos do totalitarismo que objetivamente tomaram forma no século XX, continuam a nos assombrar, apesar da crença de que vivemos em uma sociedade da livre informação e de que seríamos mais emancipados que as gerações anteriores.

(Prof. Dr. Volmir Cardoso Pereira)



TEXTO PARA DISCUSSÃO:

Para nossa discussão, tomaremos por base o texto “Ideologia e terror: uma nova forma de governo”, da filósofa Hannah Arendt. Trata-se do último capítulo do livro As origens do totalitarismo, publicado em 1951. Ao analisar o nazismo e o stalinismo, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, Arendt fez notáveis observações sobre as características do Estado totalitário, mostrando que o totalitarismo pode assumir formas ideológicas diversificadas, mas que sua perversão resulta de elementos próprios do desenvolvimento da Modernidade, sobretudo a crença utilitarista em fins que justificam os meios.



Baixe aqui:





QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:

- O que é uma “sociedade totalitária”?

- Segundo Hannah Arendt, quais fatores são responsáveis por gerar uma sociedade totalitária?

- Segundo Hannah Arendt, como funciona o terror totalitário?

- Como se dá a relação entre indivíduo e sociedade no filme?

- Quais elementos do conteúdo narrativo expressam a existência de uma sociedade totalitária?

- Quais recursos formais o diretor utiliza para problematizar a harmonia artificial gerada pelo governo totalitário?




TEXTOS SUPLEMENTARES (LEITURA NÃO OBRIGATÓRIA):
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451 (ebook)

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