Filme 03: CRÍTICA: O menino e o mundo (Alê Abreu, 2013)
FILME 03: O menino e o mundo (Alê
Abreu, 2013, 1h 35m)
MÓDULO: O contemporâneo em questão
DATA DA EXIBIÇÃO: 09/05/2018
HORÁRIO: 16:30 h
SALA: Laboratório Multimídia (Bloco F
- UEMS - UUCG)
A subversão da infância em O menino e o mundo
Premiado em Festivais como o de Havana, o FICA
(Festival Internacional de Cinema Ambiental), Shangai TV Festival, Festival de
Annecy e mostras como a de cinema de São Paulo e de Lisboa, além da indicação
ao Oscar 2016, a produção brasileira do diretor Alê Abreu, de 2013, figura como
uma obra de extrema qualidade no cenário dos longas de animação. Alê Abreu
também nos brinda com outras iniciativas como Garoto Cósmico, de 2007, Luz,
Anima, Ação (2014), Viajantes do Bosque Encantado (2016), Imortais
(2017) e uma série intitulada Vivi Viravento, também de 2017.
Com 80 minutos de enigmas apresentados numa
estética carregada de metáforas e simbolismos, a obra em questão tem um roteiro
que circunda a história de um menino que sofrendo a ausência do pai, parte para
conhecer o mundo. Nele, vislumbra-se uma beleza natural pelos olhos da criança,
mas também a exploração, o cinza, preto e ocre das grandes metrópoles, com suas
fábricas e destruição de sonhos e utopias. A tela em branco vai dando lugar a
colagens, guaches, riscos simples de giz de cera e lápis de cor até alcançar a
linguagem bastante contemporânea da propaganda e de anúncios, numa crítica sem
rodeios à sociedade do consumo e da destruição desenfreada do meio ambiente, e
à inversão de papéis, no trabalho infantil, realidade ainda presente nos dias
atuais.
A conjugação de três tempos (passado – presente -
futuro) numa cena só (o que acontece por vezes na película) ganha aspectos
complexos, da ordem do sofrimento, que subvertem a ideia simplória da infância
feliz, que abarca em si as angústias, o medo, o desamparo, e ao mesmo tempo
apontam para a brincadeira, a gargalhada, a imaginação e a criatividade. Uma mise-en-scène
dramática e bela, rica em referências de obras plásticas de artistas como Paul
Klee, Kandinsky e Miró, e porque não dizer, de Edvard Munch, transitando entre
o colorido, o inefável e o horror, a desolação de “O grito”.
Proporciona-se ao espectador atento uma experiência
estética aos moldes daquela referenciada na Teoria Estética de Adorno,
em que mergulhamos numa vivência intensa de autonomia, mimeses e
resistência: uma busca de recriação, interpretação e crítica de um contexto
banhado por questões que brincam com o universal e o particular, com o sujeito
e o objeto, numa dialética negativa do não-idêntico que evita a cristalização
nos conceitos tão demandados na pobreza do entretenimento e das mercadorias e
produtos oferecidos pela indústria cultural, ou ainda tão propagados pela
racionalidade instrumental.
Keyla Andrea Santiago Oliveira
(Professora do curso de Artes Cênicas e Dança - UEMS - UUCG)
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
ADORNO, Theodor W. ADORNO, T. W. Teoria estética. Traduzido por
Artur Mourão 2ª ed. Lisboa: Edições 70, título original de 1970.
OLIVEIRA, K. A. S. Possibilidades da experiência estética na educação da
infância: uma proposta com leitura de imagens. Curitiba: Appris, 2014.
ROURE, Glacy Queiros de. Programa Intervalo de aula - Infância na retina
– O menino e o mundo. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=fn81LiFBwlg.
Gostaria de resumir a minha experiência ao ter assistido esse filme em uma palavra: Desencantamento. Me identifiquei muito com os dilemas do personagem. As expressões dos trabalhadores e a homogeneidade das suas características vivendo no meio do caos urbano enriqueceram muito a crítica social que consegui visualizar na película.
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